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A MEDITAÇÃO E O ABISMO DO SABER E O FAZER.

Updated: Jun 10, 2023

Mais do que nunca, muitos ainda sofrem do que podemos chamar de "síndrome de Éfeso". O que seria isso? João, escrevendo à igreja de Éfeso, reconheceu seu perseverante trabalho apologético, colocando à prova aqueles que se declaravam apóstolos, mas não eram.


Isso é reconhecido como uma boa obra, porém, colocaram “tantos outros” à prova, que não se deram conta do seu próprio esfriamento, abandonando o primeiro amor, associado pelo autor, à prática das primeiras obras. É como saber que o mandamento é o amor, mas não amar o mandamento. Eis o dilema do saber intelectual versus o saber experimental. A dor do “muito saber e pouco fazer”


Tão importante quanto posicionar-se corretamente contra ventos doutrinários que enganam a muitos, é guardar o coração da burocratização intelectual e apresentar-se aprovado na validação do ensinar pela experiência prática. Porque ensino que não aperfeiçoa para servir, que não pratica para crescer, que não tem compromisso com o amor que edifica, não tem nada a ver com a verdade.


Devido a esse abismo que parece existir entre o que sabemos e o que fazemos, muitos se sentem mal, pesados, condenados e frustrados. Portanto, é preciso começar lembrar que não existem abismos em Deus, nem realidade dualista, independente ou autônoma em sua criação, porque tudo se relaciona e se completa. Em Deus há integridade.


Morte é separação, e quando algo se separa, algo em alguém experimenta algum tipo de morte. Quando algo se separa dentro de nós, algo morre. Então, como conciliar de forma coerente e testemunhal aquilo que sabemos com aquilo que fazemos? Nosso objetivo é apontar o caminho, para chegarmos juntos nessa realidade integral.


Tenhamos cuidado com o veneno servido no copo de água cristalina. Toda vez que alguém diz: - “Oração é mais importante que doutrina”, ou que a obra é mais importante que os relacionamentos, ministra-se morte, porque morte é separação. Quebra-se a integralidade da mensagem. Essas palavras podem matar algo dentro de quem as ouve, seja o zelo pela doutrina, pela oração ou pela comunhão. A igreja do primeiro século perseverava igualmente em todos esse pilares igualmente importantes para a vida da igreja, para cultivar e guardar a cultura cristã.


O dilema da árvore e seu fruto...


Temos como propósito apontar como chegar nesse lugar onde o que sabemos e o que fazemos se encontram. Até que vejamos de fato a tão falada cultura cristã, confirmada em seus frutos. Segundo a definição formulada por Edward B. Tylor, cultura é: “Todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.


Andrew Sandlin, em sua obra sobre "Cultura Cristã", diz que: "Cultura é o produto da interação criativa do homem com a criação divina. Criação é o que Deus faz, cultura é o que nós fazemos. A criação, somada à ação benéfica do homem, equivale à cultura. O homem age sobre a criação de Deus e produz cultura”.


Cultura é o “como” nos expressamos enquanto sociedade, é tudo que produzimos a partir de tudo o que temos dentro de nós, é tudo o que somos. Cultura é cultivo. Isso significa que todos somos agentes culturais e ninguém está isento de produzir cultura. O mais radical desse princípio é que não existe neutralidade no campo da produção cultural, uma vez que toda árvore é conhecida pelos seus frutos.


Portanto, somos e seremos conhecidos pelo tipo cultura que produzimos, pelo tipo de comportamento que temos, pela forma como nos expressamos e a quem expressamos. Essa é uma verdade radical. Uma árvore boa não pode produzir maus frutos e a má não pode produzir bons frutos (Mateus 7:17-18). Produzir não nos parece ser uma opção, mas uma marca de legitimidade.


Se cultura é o que fazemos (produzimos) a partir do que temos dentro de nós, como pensamentos, sentimentos e vontades, onde está o que sabemos? Talvez o que sabemos não esteja tão dentro de nós quanto imaginamos.

O dilema dos quatro tipos de solos.


Todos já ouviram sobre a parábola do semeador, mas nem todos percebem sua importância. Ela é conhecida como parábola fundamental para o desenvolvimento da vida cristã, uma vez que o próprio Cristo diz: “Vocês não entendem esta parábola? Como, então, compreenderão todas as outras?” (Marcos 4:13).


Entendê-la pode significar encontrar a chave para a compreensão de todas as outras parábolas, uma chave para experimentar a vida verdadeiramente produtiva, tanto em frutos do Espírito (Gálatas 5:22), com evidências do Cristo formado em nós (Gálatas 4:19), como no impacto do testemunho das sementes "filhos do Reino" plantados no mundo, aqueles que, na morte pessoal, multiplicam a semente da "Palavra do Reino" que os formou.


Jesus explica abertamente aos discípulos, que a semente é a palavra do Reino. A semente tem poder latente de vida em si mesma e, através do seu embrião, em condições favoráveis, nasce, cresce e frutifica. Assim, a Palavra de Deus é Viva em si mesma (Hebreus 4.12) e, à medida que é lançada, encontra diferentes níveis de correspondência. É esse nível de penetração e profundidade da palavra que determina o nível de produtividade.


É comum colocarmos toda a nossa expectativa de produtividade sobre a palavra que ouvimos. Mas, na verdade, essa parábola prova que a condição de quem ouve é determinante para que a palavra frutifique. Tão importante quanto o que é falado, é a condição de quem está ouvindo. Pessoas podem ouvir a palavra certa com a disposição interior errada, e, no fim das contas, podem dizer que a palavra falhou por não frutificar.


A verdade é que muito daquilo que ouvimos simplesmente se perde por falta de penetração, de internalização, de guardar no coração, de trazer do campo das ideias para dentro do centro da vontade. Para uma geração do povo de Israel a palavra não teve proveito, por não ter sido acompanhada de fé, por não haver resposta. Quem foi que falhou? A palavra falada ou o ouvinte da palavra?

“Pois as boas novas foram pregadas também a nós, tanto quanto a eles; entretanto, a mensagem que eles ouviram, de nada lhes valeu, pois não foi acompanhada de fé, por aqueles que a ouviram”. Hebreus 4:2

Fé não se limita a quanto alguém acredita na palavra de Deus, mas como ela responde à palavra de Deus. A fé não responsiva é infiel, porque falha na sua falta de resposta, e é incrédula na sua essência, porque ouve tudo, acredita em tudo, mas não se move em nada.


Quem nunca ouviu falar da galeria dos heróis da fé (Hebreus 11)? O autor, procurando tratar sobre a fé, cita alguns dos homens mais representativos da história bíblica, todos lembrados por sua fé, não apenas pelo quanto acreditaram, mas pelo como responderam. Pela fé Abel levantou um altar, Noé fielmente construiu uma arca. Pela fé, Abraão respondeu ao chamado para uma terra. Crer é responder fielmente à palavra de Deus que ouvimos.


A parábola do semeador, no primeiro momento, fala de uma semente para quatro tipos de solos. O solo à beira do caminho é o coração endurecido, obstinado, sujeito a atuação de demônios (Lucas 8:12); a vegetação rasa entre as pedras fala do empolgado irresponsável, que grita na hora que ouve a palavra, mas não se aprofunda no processo de cultivá-la interiormente. Esse novo nível de dureza interior, disfarçada de espiritualidade, se revela quando a palavra é colocada à prova pelo próprio Deus, que nos prova para que seja produzida fé, esperança, paciência, experiencia, frutos de justiça (Romanos 5:3, Tiago 1:3, Hebreus 12:11)


Além da resistência pelo endurecimento, tem a dificuldade do sufocamento da ansiedade pelas coisas da vida cotidiana, impedindo que a palavra cresça e frutifique. Então, a boa terra está representada naquele que, com boa disposição de coração, retém a palavra (Lucas 8.15).


Para que exista cultura cristã, a palavra que ouvimos precisa ser cultivada diariamente e interiormente, até que, a seu tempo, floresça no mundo, sendo pressionada pelo calor da terra.

O dilema do que sabemos e o que fazemos.


John MacArthur, em sua obra sobre "Sociedade sem Pecado", nos chama a atenção, para como "a sociedade atual nos incentiva a buscar a auto-estima, os sentimentos positivos e a dignidade pessoal. A responsabilidade moral está sendo substituída pelo vitimismo, que ensina as pessoas culparem outras pelos seus fracassos e iniquidades. Na verdade, os ensinos bíblicos sobre a corrupção humana, o pecado, a culpa, arrependimento, e a humildade, não são compatíveis com qualquer dessas ideias".


Jesus fala sobre treze males que saem de dentro do coração do homem (Mateus 15:19). O que sai de dentro de nós é coerente com o que sabemos que deve sair de nós? Se não fazemos o que sabemos, de onde vem o querer do que fazemos? Se não fazemos o que sabemos, onde está o que sabemos? Eis ai o dilema!


Será que é a falta de conhecimento que nos impede de obedecer a Deus e de guardar seus mandamentos, ou trata-se de uma questão de natureza, a pecaminosa falta de boa vontade e impotência moral recebida em solidariedade da raça, por meio do pecado original? (Romanos 5:19).


Conhecer a verdade moral não libertou do pecado. Precisamos aplicar mais esforço ou necessitamos de socorro? No fracasso do esforço pessoal somos encontrados pela graça preciosa que nos salva da possibilidade da negação dessa natureza respaldados pela hipocrisia religiosa.


A questão é: qual o nosso nível de envolvimento com o que sabemos? A semente precisa penetrar a terra. O que sabemos precisa ser interiorizado e isso implica engajamento interior. Precisamos aprender o que sabemos. O processo de internalização acontece por meio do meditar sobre o que ouvimos, do cultivar pensamentos regenerados, esse engajamento acontece por meio da disciplina.


Como pensamos disciplina? Pensar na disciplina de forma penitencial, baseada na dor da abstinência é tão penoso e pesado quanto não fazer o que sabemos. O que fazer? Propomos o caminho da disciplina baseada na experiência saborosa. Davi encontrou prazer na meditação. Salmo 119:92 diz: “Se tua lei não fosse o meu maior prazer, o sofrimento já me era consumido”. Salmo 119:174 diz: “A sua lei é meu maior prazer”. Sobre que conselho andamos?

Feliz o homem que não anda segundo o conselho de quem não conhece a Deus, nem se deixa influenciar pela conduta dos pecadores, antes sua plena satisfação está na lei do Senhor, e nela medita dia e noite (Salmo 1:1).

Como alcançar isso? O que estamos ouvindo? Quem estamos ouvindo? Que diferença há entre o que ouvimos de Deus e o que fazemos para Deus? Um exemplo que pode ajudar a entender esse princípio é, ao invés de sofrer por não consumir mais açúcar, encontrar prazer no doce das frutas.


Henri Nouwen, em seu livro chamado "Espaço para Deus", diz que: "Se cremos que Deus está ativamente presente em nossa vida, precisamos reservar um tempo e espaço para lhe dar atenção. A disciplina é a prática do ser discípulo. Não levamos a sério vida espiritual se não reservamos um tempo com Deus para ouvi-lo.”


Jesus diz: “Satisfaz ao discípulo ser como seu mestre.” (Mateus 10:25). A essência da disciplina está na resposta voluntária a segui-lo de perto, observa-lo com admiração, ouvi-lo com disposição em guardar, meditar até o saber querer, olhar íntima e atentamente para imita-lo, até se tornar igual.


Nosso nível de disciplina é proporcional à intensidade da relação com aquele do qual afirmamos ser discípulos. Se a realização do discípulo é ser como seu mestre, existe satisfação em não ser discípulo? Quem, afinal, queremos ser? Qual a razão da nossa insatisfação e descontentamento?


O dilema do ouvir e o guardar.


Lembre-se do que Deus disse a Josué: “Ninguém poderá te resistir… jamais te abandonarei…Sê forte e destemido porque farás este povo herdar a terra. Tão somente sê, de fato, forte e corajoso para teres o zelo de agir de acordo com todos os mandamentos da lei…” (Josué 1:5). Então Josué seria “bem-sucedido em todas as suas realizações” (Josué 1:8).


Todos sabemos que Josué chegou lá! Como conseguiu?

O que deve acontecer entre o momento que Deus fala e o momento em que Josué é bem-sucedido? Primeiro Deus fala, depois Ele deveria meditar dia e noite e se envolver com o que ouviu. Então, seria bem sucedido no que realizasse. Parece que vemos um caminho se abrir diante dos nossos olhos.

Ouça o que Deus disse e fale com você mesmo sobre o que foi dito, até que cada palavra seja interiorizada. Aprenda a falar com você mesmo sobre os pensamentos de Deus. Se a cultura é o que produzimos a partir do que temos dentro, devemos meditar sobre toda palavra de Deus que ouvimos.

Segundo a terminologia bíblica, "ouvir" está diretamente relacionado com "guardar". Biblicamente, ouvir é igual a guardar, e guardar é igual a obedecer. Por isso, o salmista declara guardar sua palavra dentro do coração, no centro da vida, para não pecar contra Deus. A medida que guardamos somos guardados.

“Se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos porque toda a terra é minha” Êxodo 19:5

Existe um fluxo na dinâmica de ouvir e guardar que precisa ser desobstruído. Ouvimos muito e guardamos pouco do que ouvimos. De tudo que ouvimos, pouco cumprimos, e seguimos procurando coisas novas para ouvir. Seria acúmulo intelectual sem inteligência?


Tiago Cavaco, pastor da igreja da Lapa em Portugal, faz uma citação importante em sua obra sobre como "Ter Fé na Cidade": “Para os judeus, alguém que compreendia bem uma coisa, tinha igualmente de vivê-la bem. Porque, se alguém fosse supostamente sábio na teoria e não conseguisse pôr em prática essa sabedoria, não seria chamado de sábio. Provérbios foi escrito numa cultura que não daria crédito para sabedorias abstratas, apenas para as concretas”.


Negligenciar fundamentos como esse é não levar a si mesmo a sério, é subestimar as consequências da própria irresponsabilidade. É como construir a vida sobre areia. Intentar causar no mundo sem ter uma causa dentro. Ouvir sem guardar, assim como, ensinar sem fazer, opinar sem conhecer, esperar colher sem plantar, é o tipo de comportamento zombador. Mas é bom lembrar que de Deus não se zomba e com princípios espiritais não se negocia. Se você não se leva a sério, quem levará?


O dilema das três naturezas.


Não pensamos os frutos que evidenciam uma cultura cristã a partir da força do hábito, porque não se trata de uma mecânica biológica ou psíquica, mas de uma atuação do Espírito Santo por meio da palavra que ouvimos (Gálatas 5:16). Por isso, entendemos tratar-se de uma terceira natureza.


A primeira natureza está representada nos sistemas biológicos subconscientes. Por exemplo, não pensamos para respirar ou digerir alimentos. A segunda natureza, mencionada por Aristóteles, se trata da natureza representada no poder do hábito, que, a partir da prática do comportamento, se torna como respirar ou piscar. É a automação mecânica do comportamento, como dirigir um automóvel de casa para o trabalho. As marchas são simplesmente trocadas, e os pedais pisados. Na maioria das vezes, não pensamos para fazer, simplesmente fazemos por força do hábito.


Porém, quando se trata da vida cristã, temos que entender o princípio da solidariedade da raça com o pecado original e da impotência moral da natureza humana. Isso significa que não somos bons o bastante para vivermos o padrão de Deus sem Deus e que não podemos confundir a fé em Deus com a fé na fé. Só é possível frutificar virtudes referentes à natureza e o caráter cristão a partir da operação do Espírito Santo em nós.


Paulo nos ajuda muito a entender esse processo, relacionando a mudança de mentalidade encrava para livre, da natureza do dominado para a de domínio, através do "andar" no Espírito (Gálatas 5:16), andar no sentido de adotar um "novo modo de vida espiritual". Escrevendo aos romanos, fala da importância do homem ressurrecto, renascido, recriado, imerso e unido com Cristo, andar em novidade de vida (Romanos 6:4).


Esse andar transcende o poder do hábito, está associado à sujeição da vontade, ao deixar-se ser guiado pelo Espírito (Gálatas 5:18), até que, por meio dessa relação, o saber afete o centro da vida, a divina semente dessa natureza regenerada (1 João 3:9), a semente incorruptível da palavra de Deus (1 Pedro 1:23), floresça de dentro para fora, frutificando virtudes como amor, alegria, paz, paciência, bondade e fidelidade, evidências de alguém que vive pelo andar no Espírito (Gálatas 5:25).


A disciplina do hábito pode, sim, mudar comportamentos. Podemos escolher melhorar nossa alimentação, adotar hábitos mais saudáveis, adotar novos métodos de gestão de tempo e de recursos, mas o hábito não tem poder de transformar a natureza vaidosa, idólatra, ressentida, egoísta, cobiçosa, medrosa, autônoma e incrédula do homem. Você pode protelar seu câncer, mas não salvar sua alma.

Porém, quando se trata da vida cristã, somos impotentes moralmente, não somos bons o bastante para vivermos o padrão de Deus sem Deus. Só é possível encarnar o testemunho do Cristo ressurrecto a partir da operação do Espírito Santo em nós.

Essa terceira natureza é espiritual. Está além da natureza biológica subconsciente e da natureza mecânica consciente, porque se trata do desenvolvimento da natureza espiritual racional e relacional, da fé que vem pelo ouvir a palavra de Cristo (Romanos 10:17). O homem carnal, viciado em sentir, precisa encontrar espiritualidade no pensar, ouvir e guardar a palavra de Deus porque pensar é espiritual. É dessa espiritualidade inteligente que carecemos, até que sejamos naturalmente espirituais e eventualmente carnais, ao invés de naturalmente carnais e eventualmente espirituais.


A fé vem pelo ouvir a palavra de Cristo, e, à medida que nos envolvemos com o que ouvimos, e repensamos no que ouvimos, cultivamos a palavra do Reino dentro de nós, no terreno no nosso coração. Esse é o caminho para um tipo de gente que vai se expressar de forma verdadeiramente cristã, através de gente puramente bela, compassivamente relacional, naturalmente espiritual, psiquicamente saudável, eticamente responsável, vocacionalmente criativa, culturalmente produtiva.


Mas é importante lembrar que esse processo do cultivo requer tempo. Sobretudo, cada um deve ter paciência consigo mesmo. Uma semente não frutifica de um dia para o outro. São anos, meses e estações. É necessário dar tempo ao Espírito de Deus, para que Ele opere em nosso querer e realizar segundo a vontade de Deus (Filipenses 3:13).


Concluindo


A cultura cristã é resultando do poder de Deus operando dentro de nós através da sua palavra. Paulo fala sobre o esforço segundo o poder de Cristo que opera poderosamente nele (Colossenses 1:29), e que “Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós” (Efésios 3:20).


Lembre-se que é a partir dessa dinâmica naturalmente espiritual que evidenciamos as virtudes do Espírito, experimentamos o florescer de uma nova cultura cristã e expressamos Cristo na vida prática. Se não nos ocuparmos com o que estamos ouvindo, estaremos perdendo tempo e nos esforçando inutilmente.

Nathan D. Wilson, em seu livro Morrer de tanto Viver, diz: “O que é cristianismo encarnado? Se você pensa algo, viva-o. Se não vive, não está pensando de verdade. Você é o que faz”.

A fé cristã que confessamos não deve representar um tipo de cultura restrita, limitada a um grupo de pessoas de pensamento e comportamento isolado do seu contexto global, local e geracional. A cultura Cristã não deve justificar viver separado do mundo como uma subcultura.


Cultivar é promover cultura, é produzir educação, arte, governo, economia, assim como o guardar é manter a salvo a essência e propósito original de tudo que é produzido. A santidade não tem a ver com isolamento. A santidade é missional e escatológica, ela se completa à medida que somos desenvolvidos e enviados.


Deus separa uma nação resgatada (Êxodo) de ministros governantes (Levíticos) e envia-os a partir de uma estratégia de ocupação territorial (Números). O propósito da santidade não é se sentir bem ou melhor, mas cumprir a Missão de Deus, por isso que Jesus se santificava por eles (Jo 17:19).


O chamado de Abrão é significativo para entendermos o chamado para estabelecer uma nova matriz cultural, e lançar as bases a partir da qual será restaurada essa produção cultural. Assim como a queda representa um rompimento com a cultura do Reino de Deus, o restabelecer uma matriz cultural implica rompimento com a Cultura do domínio do homem.


Abraão deveria deixar sua herança natural, materialismo, adorar e servir coisas criadas, para herdar uma nova terra para seus descendentes cultivarem e guardarem, adorando e servindo a Deus, amando uns aos outros e cumprindo o mandamento do trabalho para glória de Deus.


Uma nova matriz cultural tem como fator progenitor ordenar os filhos e a sua casa segundo toda palavra de Deus (Gênesis 18). O homem chamado Pai exaltado é renomeado por Deus em seu caráter e missão. Agora é um Pai abençoador de nações. Essa é a palavra que está sobre todos que estão sendo desenvolvidos a partir dessa matriz cultural sacerdotal: Seja uma bênção!


A mentalidade dessa cultura não está mais baseada no medo da morte, no tentar se salvar, na inversão de valores e na segurança do ter, mas na convicção de ser e estar em Deus, de ter uma palavra viva dentro de si, ser fértil, multiplicar todos os recursos, ocupar todos os espaços, até encher a terra, sujeitar todas as coisas a Deus, a fim de que tudo seja para missão de Deus, e, sob seu poder e autoridade, exercermos domínio como homens livres, não porque fazem o que bem entendem, mas, porque servem uns aos outros em amor.


A missão não se limita a justificar o que acreditamos, mas fundamenta tudo o que vivemos. Já parou para pensar como seria se vivêssemos o cultivar e o guardar a partir do amor pactual, do ser coletivo, evidenciando nossa essência relacional? Seríamos cada UM cultivando o SEU como se fosse NOSSO e guardando o NOSSO como se fosse SEU. Seríamos homens de um só coração, tendo tudo em comum. É a partir do ouvir e guardar cada uma de suas palavras, que uma cultura cristã, legitimada por seus frutos, florescerá, trazendo esperança onde nada mais se espera.


Fraternalmente em Cristo Anderson Bomfim




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